A ideia de escrever o livro “Caminhos e Trilhas da Ilha Grande” começou no dia em que pela primeira vez pisei na Ilha Grande, quando fui ciceroneado pelos amigos Jovino e Sandra. Jovino era guarda no Presídio e com ele tive a oportunidade de conhecer Dois Rios quando isso era quase impossível para quem não tivesse relação com o presídio.
Naquela época, o movimento hippie tomava conta do mundo. Hoje a guerra é quente, mas naquele tempo era fria, ainda que em alguns lugares ela pegasse fogo. Era comum ficarmos discutindo se a União Soviética poderia mesmo mandar um míssil na cabeça dos americanos e estes, em resposta ao ataque, também mandar outro na cuca dos russos. Seria o fim do mundo, e que conforme uma profecia acabaria em fogo até o ano 2000. E parecia que o mundo ia acabar mesmo! O Cometa Halley se aproximava cada vez mais rápido em direção do Sol e se a Terra estivesse no caminho seria o fim dos tempos. Eita tempinho bom!!! Os extraterrestres apareciam de montão, várias pessoas foram abduzias, Lulu Santos viu um óvni sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas, Raul Seixas também andou vendo alguns e tinha até música para marciano da Rita Lee. Ante tantas ameaças, só nos restava aproveitar a vida. Assim, de barraca e mochilas abarrotadas de macarrão e extrato de tomate às costas, partíamos em busca de aventuras nos lugares mais idílicos possíveis, para que assim, se o mundo acabasse naquele dia, ao menos levaríamos boas recordações da Terra.
Nessas andanças pela ilha, comecei a criar mapas com anotações diversas para auxiliar os amigos que queriam caminhar mais afastados do Abraão, como Palmas, Lopes Mendes, Castelhanos, Caxadaço, Parnaioca e Aventureiro. Todas essas praias eram habitadas por comunidades caiçaras que viviam da pesca e da lavoura de subsistência. A diversão maior eram as festas religiosas e o “calango”, uma dança de arrasta-pé embalada pela sanfona, pandeiro e triângulo e que hoje em dia não levanta mais poeira nos terreiros das casas de pau a pique. Porém, caminhar pela Ilha Grande não era tão fácil assim. Era impossível andar pelas trilhas despreocupadamente, olhando os pássaros, os bugios, as flores... Qualquer lagarto que andasse no mato sempre nos deixava de prontidão e às vezes de cabelos em pé ante a possibilidade de ser um preso foragido, que por certo, tentaria dar cabo da pessoa para não correr o risco de ser denunciado. Assim, guardei minhas anotações e abandonei a ideia de fazer um guia.
Em 1999, a convite do meu amigo Fernando Braga, fui assistir a uma apresentação de slides na UNICERJ (União de Caminhantes e Escaladores do Rio de Janeiro) do montanhista Ricardo Borges (meu primeiro guia de escaladas) sobre suas façanhas nos Andes. Acabei ficando sócio do clube e começou uma nova fase em minha vida - Caminhar e escalar pelas matas e montanhas do Rio de Janeiro. Foi assim, que numa caminhada pela Floresta da Tijuca eu conheci o seu Diretor Pedro da Cunha, que estava empenhado no trabalho de recuperação da floresta, restauração de trilhas, fechamento de corta-caminhos e sinalização. Numa caminhada sinalizando a trilha para o Pico da Tijuca, conversamos sobre seu recente livro “Novas Trilhas do Rio” e nesta oportunidade lhe falei da minha ideia de escrever um livro sobre as trilhas da Ilha Grande nos mesmos moldes do seu livro; mostrando os sobes e desces, os dobre à esquerda e à direita e os pontos críticos. Fiquei pasmo quando ele me disse que este também era um de seus projetos.
Confesso me senti confuso pelo fato de estar concorrendo com a mesma ideia de tão prezado amigo. Minha bagagem era miserável frente ao legado que o Pedro acumulara nas suas pesquisas e experiências. Entretanto, ficou combinado de fazermos o livro juntos e continuei a caminhar pela Ilha, dando várias voltas gravando e anotando cada detalhe das trilhas e dos lugares, além de passar enfurnado dois anos em bibliotecas e arquivos em busca de sua história. Além das trilhas da Ilha Grande, também acabei me envolvendo com as trilhas de Paraty, que acabaram fazendo parte do mesmo guia.
Era o ano de 2004, quando o editor da EneLivros me ligou dizendo que tinha gostado dos rascunhos e me convidou a comparecer à editora para discutirmos o assunto. Isso é tudo que um escritor de primeira viagem quer ouvir de uma editora, que seu livro foi contemplado e será editado. Porém, a minha alegria durou pouco quando pensei no livro que o Pedro estava escrevendo. Não tinha outra saída se não procurá-lo para lhe dizer o que estava ocorrendo. Nesta busca, descobri que ele estava trabalhando como diplomata em Sidney na Austrália e fiquei ainda mais arrasado. Decidi então lhe enviar um e-mail falando do assunto e em anexo um resumo do livro.
Uma semana depois recebi sua resposta e confesso que foi uma das maiores emoções que já senti na vida. O Pedro não só apoiava minha conquista como também me enviou o prefácio do livro.
Com a consciência tranquila,
aceitei o convite da editora. No dia marcado para a reunião, o editor me diz
que eram dois livros e não um como eu imaginava. Ou seja: Ilha Grande ou
Paraty. Fiz um sorteio e deu Ilha Grande e assim saiu o primeiro livro da Série
Maravilhas do Rio. O de Paraty descansa numa pasta de arquivo esperando ser
aberto um dia.
Prefácio

é especialista
em Unidade de Conservação Urbanas e Ex-Diretor Executivo do Parque Nacional da
Tijuca. Em suas viagens pelo mundo, caminhou por trilhas nas matas africanas,
desertos e parques. Escalou montanhas como o Kilimanjaro e mergulhou em oceanos
e mares ao lado de tubarões brancos e subiu rios em busca de suas nascentes,
como fez numa expedição ao rio Nilo.
"Desde
pequeno frequento a Ilha Grande. Durante anos fiz diversos passeios até o
Abraão para aproveitar as praias da Ilha, atravessei o canal que a separa do
continente em viagens de lancha até Lopes Mendes, em busca das ondas perfeitas,
ou ainda dei algumas escapadas de fim de semana para percorrer as idílicas
trilhas da Ilha. Fosse para uma rápida subida ao Bico do Papagaio ou uma
cabritada mais longa de dois ou três dias, pulando de praia em praia; ir a Ilha
Grande sempre foi um prazer. A cada uma dessas visitas, contudo, sempre sonhava
em voltar à Ipaum-guassu dos índios tupiniquins para percorrê-la por inteiro,
circunavegando a maior ilha do Estado do Rio (a mais bela do Brasil!).
Não era a
distância, percorrível em confortabilíssimos 10 dias de caminhada, que me
impedia de completar a empreitada. Afinal, já percorri trilhas mais longas como
a Great Nort Walk na Austrália, que demanda duas semanas inteiras de pé no chão
para terminar seus 250
quilômetros de extensão. Sempre, de uma forma ou de
outra, faltava tempo, faltava informação. Quando ir? Onde dormir? O que
visitar? Amante incorrigível da História do Rio de Janeiro, não queria visitar
a Ilha sem antes saber tudo sobre ela. Quando Orígenes Lessa esteve por lá
preso? Quem construiu o Lazareto? Onde aportou o corsário Duclec antes de
invadir a Cidade do Rio de Janeiro em 1710? Em qual enseada escondia-se o
corsário Jorge Grego, para tocaiar os navios portugueses pejados com o ouro de
Paraty? Como foi mesmo que o presidiário Escadinha escapuliu de helicóptero do
presídio de Dois Rios? Quais são os limites do Parque Estadual? E os da Reserva
Biológica?
Agora não
tem mais desculpas. José Bernardo acaba de lançar, pela editora (...), Caminhos e Trilhas da Ilha Grande, o mais completo
guia já compilado sobre este paraíso ecológico Fluminense. Apaixonado frequentador
da Ilha, desde os tempos em que, por conta do presídio, turistas não eram bem
vindos, Bernardo passou décadas pesquisando sua história. Devorou livros,
pesquisou diários de naturalistas e botânicos europeus que nos visitaram no
Século XIX, escarafunchou arquivos, leu coleções de jornais antigos e gravou
depoimentos de moradores, visitantes e especialistas em meio ambiente.
Do ponto de
vista da História, Caminhos e Trilhas da Ilha Grande é irretocável. Seu mérito
maior, contudo, não está nas citações de Graciliano Ramos, ex-presidiário de
Dois Rios, mas na riqueza de conhecimento adquirido pelos pés do autor do
livro. De tanto caminhar ao redor da Ilha Grande, Bernardo conhece Ipaum-guassu
como a palmilha de seus pés. Sabe onde estão as suas mais belas cachoeiras,
suas mais privativas enseadas, suas mais reclusas praias, suas mais bonitas
trilhas, seus mirantes desabridos. Conhece os lugares onde os macacos fazem a algazarra
vespertina, onde as flores brotam na primavera, onde os golfinhos bailam sobre
as ondas. Mais do que isso, Bernardo dormiu nas pousadas, montou a barraca nos
campings, comeu nos restaurantes e passeou nas traineiras. Em fim, em se
tratando de Ilha Grande, tudo fez. Bernardo não é sovina. Divide com o leitor
todo esse vasto e único cabedal, decodifica os caminhos e rumos da Ilha Grande
para qualquer caminhante um pouco mais ousado. Não há desculpas! Graças a José
Bernardo, a Ilha Grande abre-se aos trilheiros de todo o Brasil.
Humildemente
agradecemos o regalo!
3 comentários:
oli bernardo...adorei o blog muito legal iradoooo 9 anais que esta escrevendo) mais é reamente fantástico vc já tinha me falado deste passeio e por um pouco nós nos poderíamos ter se encontrado n coqueiro verde/foi realmente um dia abençoado... para finalizar parabéns, Maria
Fala meu amigo...Você não sabe o orgulho que tenho de ter sido o 1º a comprar essa jóia que é esse livro.
Ficou feliz de fazer parte mesmo que de forma discreta desse trabalho maravilhoso que é "Caminhos e trilhas da Ilha Grande"
Aguardo seu autógrafo e sua dedicatória em meu livro heim...rs
ESPERO UM DIA TER O PRAZER DE SUA COMPANHIA EM UMA DAS TRILHAS DESSE LUGAR ABENÇOADO QUE É A ILHA GRANDE.
UM GRANDE ABRAÇO!
DAVID
Grande Bernardo,
Tô ansioso pra ler a história da sua última aventura, a da caça ao tesouro :)
Grande abraço
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